A capacidade de pensar pode ser o maior trunfo de uma pessoa, mas pouquíssima gente se dedica seriamente ao seu desenvolvimento. Para um grande número de pessoas, pensar é uma habilidade genética e, portanto, imutável. Edward de Bono e seu “Ninguém nasce sabendo pensar” nos mostram exatamente o contrário: o bom pensador não nasce feito; ele se faz com técnicas e treino. Mais: a inteligência pouco te a ver com a capacidade de pensar. Ainda hoje, são poucas as pessoas preocupadas em desenvolver a capacidade de pensar. Até mesmo a ciência e a educação têm-se descuidado disso. Uma exceção é o mundo dos negócios. Não por a caso, grandes empresas e corporações têm investido em pensamento, especialmente junto a seus executivos.
Muito já se escreveu e falou sobre a relação entre inteligência e capacidade de pensar. E muitos equívocos ainda persistem nesse assunto. Um dos mais sérios e comuns é a crença de que ser inteligente equivale a saber pensar. Na verdade, pensar é uma habilidade que se adquire e se desenvolve. Em poucas palavras, pensar é operar a habilidade pela qual a inteligência age sobre uma experiência, seja o que for que esteja em jogo.
A armadilha de inteligência: Com freqüência, pessoas muito inteligentes precisam treinar mais suas habilidades de pensar do que as demais. O motivo disso é o que em nosso “Cognitive Research Trust” chamamos de “armadilha da inteligência”. Seus componentes podem ser sociológicos, operacionais e até físicos. Eis alguns deles (é claro que nem todas as pessoas de QI muito elevado sucumbem a armadilhas como estas):
- Uma pessoa de QI elevado pode formular um bom argumento para apoiar seus pontos de vista. Neste caso, a armadilha está em que quanto mais coerente for seu argumento, menos motivação a pessoa terá para explorar a própria situação. A pessoa fica presa ao seu ponto de vista, simplesmente porque pode defendê-lo de maneira brilhante.
- O ego e a auto-imagem baseiam-se em geral sobre a própria inteligência. Daí a necessidade da pessoa inteligente mostrar-se sempre certa, esperta e ortodoxa. A pessoa de alto QI parece sempre inclinada a valorizar mais a esperteza do que a sabedoria, uma vez que a primeira é mais facilmente demonstrável – e depende menos da experiência.
Ouvir, ler e pensar: Bons ouvintes são raros. Ouvir bem requer lentidão. O bom ouvinte concentra atenção diretamente sobre o que está sendo dito – e com freqüência ouve mais do que está sendo dito.
Este texto é baseado no livro “De Bono’s thinking course”, de Edward de Bono. Outras leituras sugeridas sobre o assunto, do mesmo autor: “Novas estratégias de pensamento” e “Os seis chapéus do pensamento”.